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terça-feira, 5 de abril de 2011

Diário De Um Licantropo - Parte #001



21/06/2009 - Hoje é o primeiro dia oficial de inverno e sinto as mesmas coisas estranhas. Acordei com as pontas dos dedos dormentes e formigando. Meu médico me falou que não é nada, que isso pode ser somente um sintoma do famoso "transtorno de ansiedade". Sei que realmente estou passando já faz um bom tempo por muito stress no trabalho e na vida pessoal e certamente entendo o ponto de vista dele, mas porque então eu acho isso tão diferente? Bom, seguindo outras recomendações médicas (pois é, agora de uma psiquiatra) estou começando essas anotações diárias para ter um melhor acompanhamento desse mal estar que já está fazendo parte da minha rotina diária. Vamos ver o que acontece.

24/06/2009 - Dia praticamente normal. Cheguei atrasado no trabalho por conta daquela insônia que insiste em me perturbar.

26/06/2009 - Sexta-feira! Hoje é dia de sair e relaxar. E estou me sentindo super bem, como nunca me senti antes. Curiosamente eu acho que isso tem a ver com um sonho meio bizarro que tive essa noite, e que foi mais ou menos assim:

Estávamos conversando eu e mais 3 amigos em um grupo de formato circular. Ao nosso redor, a alguns metros de nós, outros grupos de amigos em comum, também distraídos conversavam. O cenário era pouco usual: uma paisagem montanhosa, com diversos pequenos platôs, e o ambiente todo envolvo por uma neblina, que era mais densa em certos pontos e bem rala em outros, permitindo visualizar e ter noção do terreno ao redor. A cerca de 200 metros existia um curioso muro de pedra, que vinha desde o início da montanha até o seu topo, com suas extremidades se perdendo de vista. Esse muro de pedra era baixo (cerca de 1 metro de altura) porém fixado nele existia uma grade feita de grossas barras de ferro com pontas em lança onde em um determinado ponto as pedras formavam um arco e forneciam uma passagem através de um portão formado pelas mesmas grades rústicas.
Algo muito parecido com o local do sonho (clique na img para um tamanho maior)
Essa percepção do lugar eu tive enquanto escutava a conversa desses amigos, pois ficava olhando ao redor e, em dado momento, vi que não éramos os únicos no lugar e estávamos sendo observados. Percebi que do outro lado do muro a uma boa distância encontrava-se em um outro platô mais elevado (e envolto por mais neblina do que a que nos envolvia) um grupo do que na hora me pareceu serem grandes lobos negros. Fiquei de certa forma aliviado porque o acesso até nós, o portão no meio do arco, encontrava-se fechado. Nisso virei-me de volta para os meus amigos e no exato momento em que eu ia falar sobre nossos observadores escutei um grito. Todos olharam atônitos para minha direita e pude constatar o porque: algumas das criaturas estavam atacando um dos grupos. Olhei rapidamente e vi o portão aberto, dando passagem a outros membros da matilha que seguiam para o ataque. Não houve muito tempo para reações, pois tudo foi muito rápido, com praticamente um ser para cada pessoa ali presente. No ataque ao nosso grupo fui empurrado pra longe por um dos seres no momento em que esse pulou para rasgar o pescoço do amigo que estava ao meu lado. Acabei ficando por último, mas certamente não fui esquecido, e naquela carnificina que ocorria, cruzei meus olhos com o que parecia ser o chefe. Não havia escapatória no seu olhar, coisa que senti em seguida.
O ataque ocorreu da mesma forma comigo, mas curiosamente me defendi e entrei em luta com o bicho, rolando, sendo mordido mas ao mesmo tempo também reagindo da forma que podia. Ficamos um bom tempo nesse embate até que joguei-o para o lado. Ambos ficamos olhando um para o outro, respirando com dificuldade devido ao cansaço, e eu sem saber o que iria acontecer na sequência. Nesse momento ocorreu a surpresa: ele começou a falar comigo e no mesmo instante eu comecei a sentir algo estranho que parecia ser um sentimento de perda.
--- Hoje você não vai com a gente... Não vai ser hoje...
--- Para onde ? Eu quero ir! (eu comecei a me emocionar e a chorar enquanto falava) Eu quero ir com vocês! Eu quero ir!
E esse diálogo ficou sendo repetido por algum tempo, de uma forma meio sem sentido, até que:
--- Mas nós voltaremos... nós voltaremos.... (e eu repetindo as mesmas coisas, sentindo a perda de algo, sentindo como um sentimento de abandono).
Nisso os lobos ou lobisomens (já acreditava nessa possibilidade mesmo no sonho) começaram a desaparecer gradativamente, se misturando a névoa do ambiente e me deixando ali, rodeado por corpos dilacerados e ainda com aquele sentimento e aquelas palavras na cabeça. A partir desse momento e como em um filme tudo ficou escuro...

Ao acordar fiquei muito surpreso, pois estava me sentindo muito bem. Arrisco a dizer que nunca me senti tão bem em toda a minha vida. Havia algo dentro do meu peito que só posso explicar como um grande sentimento de liberdade, algo como se ao mesmo tempo um grande peso tivesse saído das minhas costas, mas não no sentido de algo negativo. Difícil explicar. Só posso dizer que também foi o sonho mais nítido que tive até hoje. Algo realmente cristalino e não escuro ou "borrado" como muitos sonhos geralmente são. Durante o dia fiquei muito pensativo a respeito de possíveis significados e até pensei em algo como "era para eu ter morrido mas por algum motivo não era a minha hora". Mas estranhamente isso não me perturbou, e o pensamento do que realmente pode significar isso acredito que ficará na minha cabeça ainda por muito tempo.

Por: Rodrigo "Razor" Lanzarini.
* Partes desse conto, por incrível que pareça, são baseadas em fatos reais.

2 comentários:

  1. wow, adorei o conto! espero q se estenda o suficiente pra fazer um livro! o/
    ficarei aguardando a parte 2 ^^

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  2. @Tahlla: que bom que gostou, pois ainda tem muita coisa a ser revelada pela frente. hehehehe
    Livro? Ele vai ficar extenso, mas não sei responder o quanto, pelo menos não agora. ;)

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